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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Mesa da Vida*


 *Texto meu publicado na revista Contagem em Foco do mês de março.

Neste mês de março, caros leitores, mais uma reflexão. Surgiu de algumas conversas recentes com amigos antigos e com um novo amigo que conheci em um fim de semana em Matias Barbosa, cidade próxima de Juiz de Fora, numa visita a um outro amigo e companheiro de lutas.
No mundo atual, cada vez menos nos sentamos à mesa para falar sobre o que temos vivenciado e compartilhar experiências em um exercício de crescimento mútuo. Cada vez menos falamos com nossas famílias e com as pessoas que nos acompanham na estrada da vida sobre os nossos pequenos devaneios e sobre o que temos aprendido com nossa estada no mundo. Sentar à mesa atualmente, só para comer rápido (outro problema) e continuar correndo. Estamos indo cada vez mais depressa com nosso ritmo de vida e deixando de lado nossa humanidade, nossa vontade de compartilhar. No discurso final do ditador de Chaplin já se dizia: “criamos a época da velocidade, e nos vemos enclausurados dentro dela (...) pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura”.
Em meio ao ritmo frenético dos tempos atuais, ao mundo da tecnologia e da abundância de informações, estamos nos tornando pessoas que não percebem a importância da presença do outro. O mundo das redes sociais virtuais e dos “messenger” parece que, pouco a pouco, está nos tirando a vontade e tolerância com a presença. O mundo do capital e da informação nos ilude ofertando prazeres em seus comerciais e diz para querermos sempre mais: “não devemos ter limites”! Porém, até onde precisamos ir para ser felizes? O incentivo da busca pelo prazer e pelo que não temos (e talvez nem precisemos) faz com que, de forma inconsciente às vezes, não consigamos dar o devido valor a tudo aquilo que julgamos já ser de nossa “propriedade”. E assim, deixamos de valorizar coisas simples como o ato de sentar para conversar sobre nós com quem é importante para a nossa vida.
Os nossos hábitos atuais de convivência, o nosso afastamento, podem ser percebidos inclusive no desenho de nossas residências. Nas casas de arquitetura própria de algumas décadas atrás, sempre se tinha uma varanda com um banco para sentar e prosear um pouco. Hoje, várias casas de bairros mais novos não possuem este componente.
O fato para o qual quero chamar atenção é de que o ato de compartilhar idéias, sensações e expectativas com quem está mais próximo de nós está se perdendo aos poucos em nossos hábitos condicionados pelo mundo no qual estamos vivendo. Ao invés de compartilhar, estamos trazendo para o nosso cotidiano certo descaso para com as pessoas que estão dispostas (ao menos em tese) a nos ouvir e a compartilhar coisas simples. Podemos até dizer que não; que reservamos sim tempo para tudo. Mas não podemos também cometer o erro de agir como se as pessoas fossem como os aparelhos eletrônicos que acionamos quando queremos e que deixamos de lado quando achamos conveniente. Compartilhar é um ato que não é tão simples e que devemos exercitar para que não nos tornemos cada vez menos agradáveis para com aqueles que estimamos e que nos estimam. A mesa talvez deva voltar a ser ocupada por nós como o princípio deste exercício de valorização das coisas simples que temos a oportunidade de desfrutar em nosso percurso de aprendizado. E valorizemos estas coisas que temos para que não as percamos e só então nos lamentemos por perdê-las. Nem sempre temos de forma segura o que julgamos ser “nosso”; por isto até a oportunidade de sentar a mesa com a família ou com os verdadeiros amigos e conversar sobre, literalmente, tudo pode ser algo que amanhã de manhã não teremos mais. Pensemos nisto, amigos!

3 comentários:

Ana Luiza Gonçalves disse...

O importante é que nós não somos assim.
As pessoas têm consciência disso e caiem nessa tempestade interna porque querem. Sei lá! Alertá-los pra quê, se eles estão consumidos por um tipo de gana que pra gente não faz bem? Eu concordo com tudo que você disse, mas têm gente que vive assim. E quer saber? VÁ NA CONTRAMÃO! Fuja de todas elas!

obs: Adorei suas palavras.

Ariel disse...

...Saudade
das missivas...

Unknown disse...

Pois é. O tempo excasso, os propósitos cada vez mais nítidos, o tempo mudou ou nós que mudamos? Numa visão mais Marxista, no sentido do materialismo histórico, eu diria que ambos. A produção continua pautando o nosso social, a economia fala e a gente obedece. Não vejo solução para isso, mas vejo que nada mais prudente do que lutarmos por uma sociedade brasileira que ao menos se apróxime de uma social democracia. Por quê? Não queremos ter uma jornada de trabalho de 44 horas semanais para o resto da vida! Merecemos e exigimos qualidade de vida Já! É o que precisamos para evitar um pouco este sufoco que é a ausência de um "eu" e um "outro" mais harmônico em sem propósitos numa roda de ciranda!

Frases - coisas interessantes que se lê por aí...

"Se quiser que os outros sejam felizes, pratique a compaixão. Se quiser ser feliz, pratique a compaixão." Frase de Orkut